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Velhice é uma doença?

Velhice é uma doença?

19 de agosto

Velhice é uma doença?

Organização Mundial da Saúde (OMS) pretende incluir a velhice na CID a partir de janeiro de 2022, contrariando opiniões de especialistas

 

Assunto que tem ganhado destaque na mídia é a nova Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, mais conhecida como CID, que deve passar a vigorar em janeiro de 2022, prevendo a adição da velhice como doença, com prazo de três anos para implantação.

Os especialistas que analisaram essa nova classificação preveem grandes armadilhas. No Brasil, cerca de 3/4 das mortes ocorrem a partir dos 60 anos, por doenças cardiovasculares, oncológicas e neurológicas, entre outras. E se todos os motivos forem resumidos à velhice, corremos o risco de faltar informação e investimento para o tratamento destas enfermidades. Além disso, é possível que essa “doença” aumente nos próximos anos, porque a população brasileira idosa tem crescido substancialmente. A decisão também inviabiliza as dores da pessoa idosa, que passará a morrer apenas de “velhice” e não serão investigadas as causas reais. Com isso, a velhice passa a ser um grande guarda-chuva para diversas outras doenças.

E esse guarda-chuva pode encobrir grupos que, muitas vezes, já não estão no debate e com o novo CID somem, como as pessoas em situação de rua, negras, LBTQIA+, indígenas ou idosos que cometem suicídios. O professor, especialista em Gerontologia e doutor em Saúde Pública, Alexandre da Silva, abordou aspectos que podem decorrer dessa mudança em sua coluna publicada no site UOL Viva Bem. Confira alguns trechos:

“Curiosamente, já há dados demográficos garantindo que essa "doença" vai aumentar nos próximos anos, uma vez que a população idosa brasileira e mundial tenderá a crescer ainda mais nos próximos anos. Haverá também um grande problema no campo da epidemiologia com aumento da invisibilização dos reais problemas que afetam a população idosa, já que as causas - comumente sabidas e investigadas sobre as mortes de pessoas idosas - poderão ser todas sintetizadas em uma única causa que, por não ser doença na sua essência, não teria critérios adequados. Sem dados assertivos, não será possível fazer investimentos para o controle e redução de mortes por causas já conhecidas, como as cardiovasculares, oncológicas e neurológicas.

Um outro problema que poderemos ter, se aprovado esse código na CID, é que deixaremos de ter o interesse de profissionais de saúde na investigação mais aprofundada de um diagnóstico assertivo de algum agravo ou doença que afeta uma pessoa idosa. O termo velhice seria um grande "guarda-chuva" que permitiria concluir que muitas anormalidades ou maus funcionamentos de órgãos ou sistemas seriam decorrentes da velhice. Simples assim, mas muito incorreto”.

A professora Beltrina Côrte, uma das coordenadoras do Portal do Envelhecimento e Longeviver – plataforma de conteúdo com foco na discussão da realidade do público longevo no Brasil e em outros países do mundo – acrescenta: “A velhice é uma etapa da existência e, portanto, jamais pode ser considerada uma doença. Ao priorizarem estudos do envelhecimento com foco na doença, e não nos sujeitos que habitam esses corpos, valorizam produções que endossaram e endossam olhares reducionistas. A doença passa a ser o único destino e não um risco com o qual se convive ao longo da vida”, defende.

Fontes: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e Portal do Envelhecimento

 

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